Se antes da pandemia as conversas sobre burnout já vinham ganhando espaço na internet, agora então, nem se fala. Além do coronavírus, estamos encarando outros desafios à parte, em casa e no trabalho.
Opa, alguém disse trabalho aí? Pois vamos dar um zoom nessa palavra que tem tudo a ver com o burnout, também conhecido como síndrome do esgotamento profissional.
Mas antes de entrar no assunto, deixa eu só falar uma coisa: o post não é um relato pessoal (até o momento, nenhum diagnóstico de burnout por aqui), nem vai te ensinar a tratar o problema.
A ideia é compartilhar informação pra entendermos melhor o que é o burnout, quais os sintomas e o que está ao nosso alcance pra prevenção. Sobre diagnóstico e tratamento, você já sabe né? Procurar um médico sempre!
Agora sim, vamos começar!
Burnout: o que é?
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o burnout é uma síndrome que resulta do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso.
Ou seja, o burnout não surge depois de uma ou duas semanas de trabalho estressante. Estresse sempre vai ter. Burnout é um esgotamento que se arrasta ao longo de anos de sobrecarga na vida profissional.
Profissionais que lidam diariamente com pessoas e sofrem pressão constante são mais propensos ao problema. Professores, médicos, enfermeiros, jornalistas e policiais estão entre eles.
Quais os principais sintomas?
👉 esgotamento emocional intenso
👉 postura negativa em relação ao trabalho
👉 constante desânimo e falta de energia
👉 baixo rendimento
👉 irritabilidade
👉 insônia
👉 isolamento
👉 dificuldade de concentração
👉 ansiedade
👉 mudanças repentinas de humor
👉 choro fácil
Sintomas físicos também podem estar associados ao burnout, como dores musculares, dores nas costas, enxaqueca e problemas gastrointestinais.
Burnout na lista de doenças da OMS
Em 2019, a OMS anunciou que a síndrome de burnout será incluída na CID – Classificação Internacional de Doenças a partir de 2022. O documento é a principal referência para profissionais de saúde identificarem tendências e estatísticas de saúde em todo o mundo.
E o que essa inclusão significa na prática? Significa que a síndrome de burnout agora terá uma definição mais detalhada na CID 11, passando de uma condição de saúde para um fenômeno ocupacional, ou seja, com causas diretamente ligadas ao trabalho.
Essa mudança de conceito ajudará os médicos a terem informações mais específicas sobre o problema e a chegarem a um diagnóstico mais preciso.
Isso pode ajudar, inclusive, na diferenciação do burnout e doenças como ansiedade e depressão. Sem contar que vai dar maior visibilidade à síndrome e jogar luz sobre o tema saúde mental no trabalho.
E vamos de dados: o burnout no Brasil
Não encontrei nenhuma pesquisa de 2020 pra gente ter um retrato fiel da realidade. Pelo que apurei, a mais recente é o da Isma Brasil, divulgado em 2018.
Trouxe os números pra te mostrar:
⚡ 30% dos brasileiros economicamente ativos sofrem de burnout;
⚡ 92% das pessoas com a síndrome continuam trabalhando;
⚡72% dos brasileiros no mercado de trabalho sofrem alguma sequela do estresse.
Mesmo que faltem pesquisas mais recentes sobre o burnout, uma certeza eu já tenho: os efeitos psicológicos da pandemia são reais e o aumento do número de casos também.
Saúde mental na pandemia: o que sabemos até agora
🔵 70% dos brasileiros ficaram mais ansiosos e estressados no trabalho em 2020, se comparado com qualquer outro ano anterior;
🔵 73% sentiram que o aumento da ansiedade e do estresse impactaram negativamente a saúde mental;
🔵 53% perderam o sono em razão da ansiedade e do estresse relacionados ao trabalho, em comparação com 40% no mundo todo;
🔵 Entre as principais pressões surgidas com a pandemia, 44% apontou a pressão para atender aos padrões de desempenho, 46% pra lidar com tarefas rotineiras e tediosas e 39% pra lidar com cargas de trabalho imprevisíveis.
O impacto da pandemia na saúde mental dos trabalhadores essenciais
Outra pesquisa, da Fiocruz, analisou os impactos da pandemia na saúde mental de médicos, enfermeiros, seguranças, atendentes e outros trabalhadores dos serviços essenciais. O estudo foi feito entre abril e maio no Brasil e na Espanha, contabilizando 22.876 questionários preenchidos.
Os resultados foram divulgados no segundo semestre de 2020, em um artigo científico publicado na revista Journal of Medical Internet Research.
Vamos conhecer os principais números:
🔵 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais apresentam sintomas de ansiedade e depressão;
🔵 27,4% dos entrevistados sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo;
🔵 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas;
🔵 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono;
🔵 30,9% foram diagnosticados ou se trataram de doenças mentais no ano anterior.
Como as empresas estão lidando com o burnout e saúde mental na pandemia?
E vamos de dados de novo! Dessa vez, os números são da pesquisa “Saúde mental em foco”, da Vittude e Opinion Box.
Foram entrevistados 2.007 profissionais de todo o Brasil em outubro de 2020, com a divulgação dos resultados em janeiro de 2021.
Deixa eu resumir os números pra você 👇
As empresas:
🔥 47% dos profissionais sentem que a empresa está preocupada ou muito preocupada com a saúde mental dos trabalhadores;
🔥 25% sentem que a empresa não está preocupada;
🔥 23% das empresas dos entrevistados adotaram informativos sobre cuidados com a saúde mental;
🔥18% disponibilizaram equipe psicológica ou de saúde para os colaboradores;
🔥 17% estão realizando encontros presenciais ou virtuais com este tema;
Os colaboradores:
🔥 33% se sentiram sobrecarregados com o acúmulo de funções;
🔥 32% estão com mais dificuldades em equilibrar a vida profissional e pessoal;
🔥 29% sentem que a produtividade piorou ou piorou muito na pandemia;
🔥 26% sentem que a produtividade melhorou ou melhorou muito na pandemia;
🔥 32% sentem que a concentração e o foco pioraram; enquanto 35% se sentem mais focados e concentrados;
🔥 22% sentem que perderam a criatividade e 29% se sentem mais criativos;
🔥 19% acham que a relação com os colegas piorou e outros 19% sentem que melhorou;
🔥 29% sentem que a qualidade do trabalho piorou e outros 25% acham que melhorou.
Bons exemplos pra compartilhar
Vou começar falando da Unimed-BH, onde trabalhei até o fim de 2020 e acompanhei todas as ações de cuidado com médicos e colaboradores.
Lá, todo mundo passou a contar com acolhimento psicológico gratuito logo que a pandemia começou. O atendimento era por telefone, 24h por dia. Para as equipes da linha de frente, ainda foi oferecido suporte presencial nos hospitais e nas unidades assistenciais.
Essa ação pra mim foi a mais importante, mas tiveram várias outras também, como sessões de meditação guiada online três vezes por semana, durante o horário de expediente.
Confesso que nunca participei de nenhuma, porque o ritmo de trabalho tava daquele jeito e eu não me permitia parar meia horinha pra entrar no Teams e meditar. Mas a oportunidade tava lá, pra quem se permitisse!
Outro exemplo é a Ambev e sua diretoria de saúde mental, criada em junho de 2020. Se você acessa o Linkedin, provavelmente viu essa notícia fazendo barulho por lá. Na prática, uma das mudanças foi a parceria com o Zenklub pra oferecer terapia online a todos os colaboradores.
A Natura também tá oferecendo o serviço, além de meditação guiada online – e por falar nisso, a Natura tem um aplicativo de meditação gratuito bem legal, sabia? Já testei o app e falei dele neste post aqui óh.
Pelo que pesquisei, a empresa também começou a liberar a galera mais cedo às sextas-feiras e dar um dia de folga para pais e mães – e como merecem, viu!
Criando um ambiente de trabalho saudável
No final de 2020, acompanhei o 1º Summit de Saúde Mental nas Organizações (tem resumão aqui, inclusive). Assistindo as lives, ficou ainda mais claro pra mim que saúde mental e cultura têm que andar juntas nas empresas.
Não adianta a empresa estar super engajada no tema se os líderes não estiverem preparados pra levar o discurso pra prática.
Saúde mental não pode ser um tema só do RH, nem se limitar à meditação guiada e espaços de descompressão com pufes, jogos e frases de motivação. Saúde mental tem que fazer parte da cultura. E fazer parte mesmo, de verdade.
Fácil não é, o desafio é dos maiores. Mas é fato que as empresas já despertaram pra isso e estão acelerando o passo pra mudança acontecer.
No infográfico abaixo, listei 6 coisas que pra mim não podem faltar em um ambiente de trabalho saudável. E pra você? O que é essencial? Me conta nos comentários!
E nós, o que podemos fazer para evitar o burnout?
Descansar, que tal? Criar tempo para o descanso, assim como você cria pra todas as tarefas da sua big list. Parece óbvio, mas tem gente que não consegue parar e dizer: agora eu vou apenas DES-CAN-SAR.
Não vou ser produtivo (a), porque já trabalhei o dia inteiro e agora é hora de descanso. É o meu tempo, é sagrado, é pra mim. E eu vou aproveitá-lo, nem que seja por 10 minutos.
Eu acho que é por aí, sabe? Descanso não é luxo, tempo perdido ou privilégio. A gente tem que parar de querer ser produtivo o tempo todo, de normalizar as horas extras, de romantizar o cansaço, de endossar comentários do tipo “ai, trabalhei tanto hoje que nem parei pra almoçar”.
Eu já ouvi isso milhares de vezes e sempre pensei: nossa, mas fulaninha dá o sangue demais. Trabalha mais que todo mundo. Deve estar mega sobrecarregada, coitada. Hoje só penso que respeitar o horário de almoço é colocar limites na relação com o trabalho.
Sei que às vezes a gente precisa esticar a corda e ultrapassar os limites pra manter o emprego, complementar a renda ou salvar o negócio.
Neste contexto de crise em que estamos, é ainda mais difícil, são milhões de desempregados e o medo de entrar pras estatísticas é real e compreensível.
Mas a nossa saúde está em jogo também, então precisamos nos cuidar mais do que nunca, porque o momento pede cuidado. No infográfico abaixo, resumi o que acabamos de conversar e dei mais algumas dicas.
Para aprofundar
Tenho uma enxurrada de links aqui comigo, mas pra não te sobrecarregar de informação, vou compartilhar os três melhores, tá?
🤩 Podcast: qual o papel do trabalho na nossa vida? (A convidada é a Mariana Holanda, diretora de saúde mental, inclusão e diversidade da Ambev).
🤩 Vídeo: saúde mental no ambiente publicitário (assista, mesmo se você não for do meio!)
🤩 Texto: por que o burnout é um dos grandes problemas da pandemia?
Agora eu fico por aqui, mas quero continuar a conversa nos comentários! Me conta como você tenta ter uma relação mais saudável com o trabalho?
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Eu amei sua matéria Marcela! Confesso que quando li, identifiquei alguns sintomas em mim e vou procurar desacelerar. Muito importante falar sobre isso, ainda mais neste tempo de pandemia. A exigência de sempre nós mulheres sempre sermos produtivas é demais e uma hora a conta chega. Se atentar a isso é crucial. Parabéns pelo texto! Abraço,
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Fran, exatamente! nós mulheres nos cobramos demais…eu até tava lendo outro dia o livro da ruth manus, c já leu? mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas. É muito isso! Lê que vc vai se identificar mais!
abraço e obrigada pelo comentário 😉