Ao fim de uma conferência na Índia, no ano 2000, Dalai Lama pediu aos filósofos, cientistas e demais participantes que levassem adiante as ideias levantadas no encontro, que discutiu o tema “Emoções Destrutivas”.
Paul Ekman, psicólogo e especialista no estudo das emoções, e Alan Wallace, professor de filosofia budista e meditação e aluno de Dalai Lama, toparam o desafio. Eles se uniram para desenvolver o “Cultivating Emotional Balance”, em tradução livre, Cultivando o Equilíbrio Emocional.
A primeira formação de professores do programa, conhecido como CEB, foi realizada na Tailândia em 2010 e,desde então, vem sendo oferecida anualmente. Hoje, os professores estão espalhados pelo mundo e o CEB é ensinado em mais de 20 países, em diversos formatos e contextos.
Aqui no Brasil, a Jeanne Pilli é uma das pessoas que tem a certificação para ensinar o conteúdo do programa. Ela é instrutora de yoga, intérprete, tradutora de livros e professora do CEB certificada pelo Santa Barbara Institute, além de minha guia nas meditações guiadas (já indiquei as práticas dela neste post aqui e neste outro).
Desde 2013, quando fez a formação de professores com o Alan Wallace, Jeanne dissemina o CEB pelo Brasil. Ao longo desses cinco anos, já alcançou mais de 6 mil pessoas através de cursos, oficinas, palestras e outras atividades do programa.
Na entrevista que você vai ler agora, ela conta como esse trabalho começou, explica o objetivo do programa e dá detalhes do curso de formação de professores que está sendo oferecido pela primeira vez no Brasil.
Ela e a Elisa Kozasa, pesquisadora do Hospital Albert Einstein (SP), são as únicas autorizadas a formarem professores do CEB aqui no país. Resumindo a ópera: você PRECISA conhecer a Jeanne Pilli e o programa! Bora?
1 – Jeanne, como foi o seu primeiro contato com o Alan Wallace?
Foi em 2005, quando ele veio ao Brasil pela primeira vez, à convite do Ladma Padma Samten, meu professor. A palestra foi em São Paulo, a duas quadras da minha casa, então pensei “ah, tão pertinho! Vou lá!”.
Fui e fiquei absolutamente encantada com o conteúdo e com a maneira como o professor Alan Wallace explicava tudo. Saí de lá querendo “colar nele”.
Comecei a comprar um monte de livros e DVD’s e a fazer o meu retiro sozinha em casa. Passava o fim de semana inteiro estudando e praticando. Depois de alguns anos, fui para os Estados Unidos para o meu primeiro retiro com ele.
2 – Anos depois você se tornou intérprete do Alan Wallace nos retiros que ele conduz no Brasil. Como isso aconteceu?
Foi pura sorte! Em 2010, o Alan Wallace veio ao Brasil conduzir um retiro. No primeiro dia tivemos um problema com a tradução e o Lama Samten me perguntou se eu poderia tentar ajudar (nunca vou poder agradecer o Lama Samten o suficiente pela oportunidade e pela confiança).
Como eu já estava muito acostumada com a voz e o jeito de explicar do professor Alan Wallace, comecei a traduzir e deu certo. Dali em diante, passei a ser a intérprete nos retiros que ele conduz no Brasil e a tradutora dos seus livros para o português. A nossa relação mudou e ficou muito próxima.
Nessa época, também comecei a receber convites para traduzir outros autores, e até hoje faço esse trabalho. É algo que eu amo fazer!
3 – E o seu primeiro contato com o programa Cultivating Emotional Balance (CEB), como foi?
Foi em 2013. Eu recebi a indicação do professor Alan Wallace para participar do Cultivating Emotional Balance Teacher Training (CEBTT). Esse treinamento é voltado para a formação de professores no programa. Passei cinco semanas no México em uma verdadeira imersão com o Alan Wallace e a Eve Ekman, que conduz o CEBTT junto com ele.
Quando completei a formação e voltei ao Brasil, comecei a ensinar o conteúdo do programa em diferentes formatos (palestras, oficinas, minicursos e curso completo) e ambientes (empresas, escolas, tribunais, centros de meditação etc).
Já ensinei o CEB, por exemplo, para juízes do Tribunal Regional do Trabalho da Bahia; para associados do Sesc São Paulo e para instrutores de meditação da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Além de mim, outras pessoas no Brasil já fizeram o mesmo treinamento e hoje ensinam o conteúdo do programa. Mas nem todo mundo que faz o CEBTT com o professor Allan Wallace e a Eve Ekman tem a intenção de ensinar. Alguns fazem apenas como prática pessoal.
4 – Explica pra gente qual é o objetivo do Cultivating Emotional Balance – CEB?
É ajudar as pessoas a cultivarem a felicidade genuína, que não depende das circunstâncias externas. É um bem-estar que surge a partir de um coração e de uma mente saudáveis, a partir de qualidades internas que a gente cultiva e oferece para o outro e para o mundo.
Essa felicidade genuína é fruto do cultivo de quatro equilíbrios, ou quatro inteligências, que são trabalhadas simultaneamente nos cursos e oficinas do programa.
O primeiro deles é o equilíbrio conativo, ligado à intenção de encontrar esse outro tipo de felicidade não-condicionada às circunstâncias externas. O segundo é o equilíbrio da atenção, ligado às práticas de meditação propriamente ditas, ao cultivo do silêncio, da quietude da mente, da presença mental.
O terceiro equilíbrio é o cognitivo, ligado ao cultivo da clareza, da lucidez, da compreensão mais profunda e clara da nossa realidade. E, por último, o equilíbrio emocional, que consiste em entender melhor como as emoções funcionam e como cultivar o que chamamos de “inteligências do coração” – amor, compaixão, alegria empática e equanimidade.
5 – Qualquer pessoa pode participar dos cursos, oficinas e palestras do programa, independente de crença ou religião?
Sim, qualquer pessoa interessada em aprender a cultivar a felicidade de dentro para fora, independentemente de controlar as circunstâncias externas (temos pouco ou nenhum controle sobre elas!).
Eu diria que algumas pessoas precisam mais dos recursos oferecidos pelo programa. É o caso dos profissionais que lidam com o sofrimento o tempo todo e/ou têm interação direta e constante com o público.
Exemplos? Médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, policiais, assistentes sociais, atendentes de telemarketing…Essas pessoas que estão na posição de ajudar o outro precisam de mais recursos para ter uma base emocional estável e fazer o trabalho delas da melhor maneira possível.
Eu só costumo orientar o seguinte: se a pessoa estiver enfrentando uma situação muito difícil ou complicada, talvez não seja o momento de fazer o programa, de se aprofundar ainda mais nas suas emoções e sentimentos.
6 – Neste ano, você e a pesquisadora Elisa Kozasa receberam a incumbência de conduzir a formação de professores do CEB no Brasil. Como foi isso?
Até 2017, o Cultivating Emotional Balance Teacher Training (CEBTT) era oferecido apenas fora do Brasil, uma vez por ano, na versão de 5 semanas com o Alan Wallace e a Eve Ekman.
É muito maravilhoso fazer a treinamento com os dois; eu já fiz e vi o quanto essa experiência é linda e transformadora. É óbvio que todo mundo deveria fazer a formação com eles, se pudesse.
Porém, eu sei que existe uma série de impedimentos. Nem todas as pessoas falam inglês e podem passar cinco semanas fora do Brasil, por exemplo. Além do mais, o professor Alan Wallace já anunciou que não vai mais conduzir o treinamento a partir de 2019.
Daí eu pensei: “Bom, acho que chegou a hora de ensinar a formação de professores aqui no Brasil!“. E é isso o que estamos fazendo, eu e a Elisa Kozasa, minha parceira de trabalho. Com a autorização oficial do professor Alan Wallace e da Eve Ekman, começamos a oferecer a formação de professores no Brasil. Lançamos a primeira versão em fevereiro de 2018.
7 – Como é o formato do curso de formação de professores aqui no Brasil?
Transformamos o Cultivating Emotional Balance Teacher Training (CEBTT) em um curso de pós-graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein (SP).
Com esse formato, a formação de professores aqui no Brasil vai durar um ano, em vez de cinco semanas, como o CEBTT. Teremos muito mais tempo para trabalhar o conteúdo com os alunos e orientá-los nas práticas e nos estudos. Imagine um ano acompanhando a transformação dessas pessoas… Isso é maravilhoso!
8 – As aulas são presenciais?
Sim! As aulas presenciais são uma vez por mês, aos sábados e domingos, em São Paulo. A cada quinze dias, os alunos recebem a minha supervisão e a da Elisa pela internet.
O cronograma também inclui um retiro, que foi no mês de julho. Passamos uma semana em Itapecirica da Serra (SP) praticando e estudando o conteúdo.
É muito bonito ver como os alunos estão cada vez mais envolvidos com o curso e dispostos a aplicar o conhecimento na vida deles, especialmente depois que voltaram do retiro. É lindo ver esse envolvimento!
8 – É uma formação específica para profissionais da área de saúde?
Não. Nessa primeira turma temos médicos, psicólogos, profissionais da área de Gestão de Pessoas, professores de yoga, instrutores de mindfulness...O grupo é bem heterogêneo!
Não é preciso ser profissional da área de saúde para fazer a formação. O que orientamos é que a pessoa esteja emocionalmente estável e tome contato com o conteúdo do Cultivating Emotional Balance antes. Uma oficina, um minicurso ou uma palestra com algum professor do programa.
A especialização é extensa (dura um ano) e demanda muita dedicação do aluno, então a pessoa precisa saber do que se trata antes de dedicar tempo, energia e dinheiro ao curso.
9- Ao concluírem o curso, os alunos estarão capacitados como professores do programa Cultivating Emotional Balance – CEB?
Sim! Os alunos receberão uma dupla certificação; uma do Santa Barbara Institute e outra do Hospital Albert Einstein.
Com os certificados, eles estarão capacitados para ministrar o curso completo do Cultivating Emotional Balance, com 42 horas de duração, e adaptar o conteúdo para versões menores, como oficinas, palestras e minicursos.
Atualmente, 25 professores certificados ensinam o programa no Brasil. Mais 15 brasileiros se formaram agora em julho, depois do treinamento com o Allan Wallace e a Eve Ekman, na Suíça. Mais 40 estão fazendo a formação do Hospital Albert Einstein e já estão loucos para ensinar!
10 – Jeanne, para encerrar, como podemos acompanhar a agenda do Cultivating Emotional Balance aqui no Brasil?
Pela página do CEB Brasil no Facebook. Lá é divulgada toda a programação de 2018.
É legal, também, as pessoas pesquisarem quem são os professores certificados aqui no Brasil. Há pessoas ensinando o CEB em várias cidades brasileiras. Os nomes e cidades de cada uma estão no site cebbrasil.com.br. É só descobrir quem é o professor (a) na sua cidade e “colar nele”.
E quem tiver interesse na formação de professores no Brasil pode acessar o site do Hospital Albert Einstein. No segundo semestre deste ano será aberto o processo seletivo para a próxima turma.
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