Artigo escrito por Tatiana Pimenta, CEO e fundadora da Vittude, plataforma que conecta psicólogos e pessoas em busca de terapia. Faz psicoterapia pessoal há mais de 5 anos e é apaixonada por psicologia e comportamento humano.
Recebi o convite da Marcela para escrever sobre estresse no trabalho.
A ideia do artigo me deixou bastante contente e ao mesmo tempo reflexiva. Como a proposta do blog é Ser Leve, não queria trazer um texto muito técnico e pesado, e sim algo de leitura fácil, onde os leitores pudessem se identificar com o relato.
Decidi então falar um pouco da minha experiência no mundo corporativo e hoje à frente da minha empresa, a Vittude. Expor como o estresse no trabalho afeta meu dia a dia, como isso já impactou e ainda impacta a minha saúde e algumas dicas para gerenciá-lo.
Sim, gerenciar, pois o estresse e os elementos estressores fazem parte da vida cotidiana e não temos como evitá-los. De fato, precisamos aprender a não deixar que as loucuras e a correria diária afetem nossa qualidade de vida.
Equipes mais enxutas, maior pressão por resultados e clima de incertezas…
Os últimos anos foram marcados por dias bastante tumultuados e incertos.
A crise econômica e política que se abateu em nosso país mudou o ambiente corporativo de diversas organizações e afetou diretamente a saúde de quem saiu e de quem ficou.
Ao enfrentar quedas constantes de faturamento e a redução do poder econômico da população, milhares de companhias se viram diante da necessidade de enxugar e reestruturar seus times.
Responsabilidades antes atribuídas a 2 ou 3 funcionários hoje são exercidas por uma única pessoa. Equipes menores, com maior sobrecarga de tarefas, com menos tempo para respirar, pensar e cuidar da saúde.
Cresceu a pressão por resultado, o medo do desemprego aumentou e o clima pesou no ambiente corporativo.
A pressão extrema fez a adrenalina de muitos diretores e líderes subir. Os tempos para tomada de decisão ficaram mais curtos e decisões altamente estratégicas precisaram ser tomadas rapidamente, sem a devida análise e reflexão necessária.
E o resultado disso? Líderes cada vez mais estressados, tensos, cuja instabilidade emocional se refletiu também no comportamento das equipes.
O clima de medo e insegurança se instaurou no ambiente corporativo e, com isso, o Burnout está cada vez mais presente. O esgotamento profissional parece ser a doença da vez!
Também estamos batendo recordes sequenciais de casos de ansiedade, depressão, síndrome do pânico e outras tantas doenças mentais.
Saúde mental x doença mental
Para piorar a situação, vivemos em um país onde pouco se fala de saúde mental. Ainda falamos muito em doença mental. E, só falamos delas quando já estão no limite, quando já estamos incapacitados, necessitando inclusive de cuidados medicamentosos.
Nas empresas, falar de estresse, ansiedade e depressão ainda é um estigma, visto como tabu e uma grande barreira a ser derrubada. Não é todo chefe que entende quando um funcionário chega relatando que está fazendo terapia ou tomando um remédio controlado para ansiedade, por isso, na maioria das vezes tudo é camuflado.
A depressão, por exemplo, ainda não é vista pela maioria como doença. Muitos acham que é frescura, corpo mole, coisa de gente rica, fraqueza, coisa de gente preguiçosa e por aí vai. Um total equívoco.
Como isso me afetou
Atuei durante quase 13 anos em indústrias e organizações de grande porte. A exigência de alta performance e entrega de números sempre existiu. No entanto, nos períodos de crise parece que todo mundo perde um pouco de controle e da racionalidade.
As longas jornadas aliadas às horas de sono reduzidas são a combinação perfeita para doenças psicossomáticas. Aquelas nas quais transformamos a dor psíquica em física.
Recordo-me que entre 2008 e 2010 a pressão por resultados era tamanha, que eu mantinha sempre uma caixa de dorflex em uma gaveta no escritório.
Tive gastrite, parei no hospital diversas vezes e estava quase sempre com dor de cabeça ou com aquelas tensões horríveis nas costas.
Em 2014 e 2015 não foi muito diferente, tive que me preparar para desligar pessoas da minha equipe, fato gerador de muita ansiedade, dias de insônia e profunda tristeza. Não havia muito o que fazer, precisava cumprir ordens.
Via colegas sendo desligados e o clima de medo se instalando pelos corredores da empresa. Decisões da alta gestão cada vez menos sem sentido e menos pensadas. Até que chegou a minha vez. Em agosto de 2015 fui desligada, e de certa forma, veio um alívio por não fazer mais parte daquela corporação.
Meses depois decidi montar a minha empresa e fundei a Vittude, uma plataforma focada em saúde mental. Posteriormente posso contar como surgiu a ideia.
Comento este fato aqui para ilustrar que, mesmo tendo decidido abandonar de vez o mundo corporativo, ainda estou submetida a elementos estressores externos.
Mesmo tendo a minha empresa e sendo livre para fazer minha agenda, ainda assim estou sujeita aos efeitos do estresse.
Onde quero chegar com toda essa história? Quero mostrar que nós somos responsáveis por cuidar da nossa saúde e pontuar que o estresse, se não for gerenciado, pode nos afetar negativamente.
Estresse no trabalho: quais os efeitos?
Listei abaixo os efeitos que o estresse excessivo pode causar em nosso organismo aos quais precisamos ficar atentos:
- Hipertensão;
- Dores de cabeça, enxaqueca e tensões musculares;
- Problemas gástricos – o sistema o gastrointestinal é um dos mais afetados pelo estresse;
- Alterações no sono (Eu tinha insônia e, às vezes, até pesadelo quando precisava me preparar para épocas de desligamentos de funcionários);
- Doenças cardiovasculares – não é incomum ver pessoas jovens sentirem formigamentos, dores no peito, arritmia cardíaca ou até mesmo aquela sensação de coração acelerado;
- Consumo excessivo de álcool – é comum ouvir pessoas falando: “hoje o dia foi cansativo, mereço uma cervejinha”. Nenhum problema se for realmente só uma cervejinha! Porém, em fases de alto estresse as pessoas tendem a buscar alívio da pressão em substâncias como o álcool;
- Dificuldades de concentração – ao invés de manter o foco e concentrar-se nas atividades em execução, pessoas estressadas tendem a ficar mais desatentas, gastando cada vez mais tempo nas redes sociais (outro grande problema dos dias atuais) e, por vezes, tendo psos de memória (os famosos “apagões”);
- Queda de cabelo, afetando a autoestima de homens e mulheres;
- Queda do rendimento e maior risco de ocasionar ou ser vítima de um acidente de trabalho.
Dicas para gerenciar o estresse
Se identificou com alguns dos sinais listados acima? A resposta foi sim? Não se desespere!
Existem medidas muito eficazes para assegurar nossa qualidade de vida. Estão todas em nossas mãos, basta ter um pouquinho de disciplina e manter o foco em você e na sua saúde!
- Reserve tempo para fazer atividades relaxantes e prazerosas;
- Pratique atividade física. Escolha uma que te dê prazer. No meu caso, descobri, em 2012, uma paixão incondicional pela corrida de rua. A corrida me proporcionou mais saúde, novos amigos e acabou me levando para lugares incríveis;
- Escute sua música favorita. Fones de ouvidos e uma playlist com sua banda ou cantor favorito podem deixar seu dia mais leve;
- Adote uma dessas atividades: meditação, alongamento, yoga. Li recentemente aqui no Seja Leve um artigo sobre 30 dias de meditação guiada. Achei difícil, mas resolvi arriscar. Estou indo para meu terceiro dia e já percebi algumas diferenças sutis de relaxamento e atenção.
- Desapegue-se das redes sociais. Estamos cada vez mais viciados nelas, olhando Whatsapp, Facebook e Instagram o tempo inteiro. Além de perdermos um tempão nisso, há pouco valor agregado nas informações obtidas. Um dos próximos desafios que pretendo propor é um “detox” das redes sociais;
- Reduza o consumo de álcool, cafeína e nicotina;
- Faça terapia: reserve um tempo para cuidar de si, para se ouvir. Cuidar da mente e do autoconhecimento é tão importante e precioso quanto cuidar do corpo. Faço terapia desde de 2012. Posso dizer com toda certeza do mundo que é um dos melhores investimentos que faço por mim. Se não souber onde encontrar um psicólogo, conte com a ajuda da Vittude.
- Por fim, se não estiver satisfeito com seu trabalho atual, planeje o plano B, C, D.. Z. Quantos forem necessários. Não tenha medo de mudar! O importante é estar bem, feliz e leve!
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