Summit de Saúde Mental nas Organizações

Saúde mental no trabalho é a pauta da vez no mundo corporativo. Com a pandemia, as empresas tiveram que parar e olhar para o assunto com mais cuidado e atenção. Mais do que isso, elas foram desafiadas pelo contexto a levar a saúde mental para além do discurso

Sim, o caminho é looooooongo pela frente. E acompanhando o 1º Summit de Saúde Mental nas Organizações ficou claro por onde a mudança começa: pelos líderes. 

Neste post, vou resumir pra você os três painéis que me geraram mais insights no evento, que rolou no início de dezembro, totalmente on-line e gratuito. Vão bora pro resumão! 

Saúde mental e bem-estar: vantagem competitiva no mundo corporativo 

geoff Summit de Saúde Mental nas Organizações

Vou começar pelo painel de abertura com o Geoff MacDonald. Ele trabalhou no RH da Unilever por 25 anos e saiu da empresa em 2014 para fundar uma ONG dedicada a promover saúde mental nas empresas.  

Geoff começou a conversa fazendo um relato pessoal sobre a depressão e a síndrome do pânico.

A minha história começou em 2008. Na véspera do aniversário de 13 anos da minha filha, eu acordei de madrugada com um enorme ataque de pânico. Nunca havia sentido isso antes. Esse termo sequer fazia parte do meu vocabulário. Como não sabia nada do assunto, achei que estava prestes a ter um ataque cardíaco. Acordei minha esposa e ela me orientou a levantar da cama e a respirar profundamente. Levantei, comecei a inspirar e expirar muito lentamente e fui melhorando. 

Apesar disso, Geoff não conseguiu levantar da cama no dia seguinte, algo estranho para alguém tão ativo como ele. Convencido pela esposa, foi ao médico e recebeu o diagnóstico: ansiedade e depressão.

Saindo do consultório, tomei uma decisão que mudou a minha vida. Decidi que eu não ficaria marcado e estigmatizado pelo meu diagnóstico. Falei sobre isso para as pessoas e recebi muito amor de volta. E fui me recuperando graças a esse amor. Depois da minha recuperação, voltei ao trabalho, tive recaídas, até que em 2012 recebi uma notícia devastadora: o meu amigo havia cometido suicídio. Fiquei arrasado, me perguntando por que ele não me contou o que estava acontecendo. Concluí que o estigma do diagnóstico da depressão foi o que o matou.

Foi ali que Geoff encontrou o seu propósito de vida: combater os estigmas em torno do tema saúde mental. Estigmas muito presentes também nas empresas. 

No ambiente de trabalho, as pessoas falam sobre saúde física sem nenhum tipo de problema. Elas sabem que podem levantar a mão e pedir ajuda. No entanto, em pleno século 21, ainda encontramos pessoas com dificuldades para falar sobre saúde mental e emocional. Como isso é possível? Tem algo errado aí! 

Na visão de Geoff, os tabus existem porque não nos informamos. Não entendemos a depressão, a ansiedade, a síndrome do pânico. Não falamos sobre isso. Não dividimos as nossas experiências. Para as coisas mudarem dentro das empresas, elas precisam investir em treinamento e informação sobre saúde mental. 

A segunda maneira é lançar campanhas criativas sobre o tema, para aumentar a conscientização. Campanhas engajadoras que reconheçam como heróis as pessoas que passaram por algum tipo de desafio, como a depressão.

Outro passo importantíssimo é reavaliar as competências e os comportamentos esperados dos líderes dessas organizações. Basta a gestão por resultados? A capacidade de trabalhar em equipe? A responsabilização? Não mais. Eles precisam de novos comportamentos. 

Encerrando o painel, Geoff deixou um recado final:

Se juntem a mim nessa cruzada, se associem a esse movimento, tentem normalizar a saúde mental no ambiente de trabalho. O mundo precisa entender que precisamos investir ao máximo em saúde mental e emocional, da mesma forma como investimos na saúde física. Assim salvamos vidas.

Saúde mental em sinergia com outras pautas

geoff Summit de Saúde Mental nas Organizações

Esse painel foi com a Francine Graci, diretora de Career Experience do Twitter; Betina Lackner, diretora de RH da Johnson & Johnson e Nélio Bilatte, CEO da consultoria NBHEART. 

Os três falaram muito sobre como saúde mental e cultura andam juntos.  

Fomos nos restringindo ao cargo, às tarefas, ao dia a dia, ao PTT, e com isso fomos carecendo de significado. A falta de saúde mental é só um efeito disso. Temos que trabalhar as causas e uma delas, sem dúvida, é a ausência de uma cultura organizacional sadia, amorosa, leve, livre e sobretudo humanitária. (Nélio Bilatte). 

E por onde a mudança começa? Pelo presidente, pelos diretores, pelas altas lideranças. Se os líderes não colocarem o tema saúde mental no coração e nas atitudes, esquece! Saúde mental não é um tema do RH, como bem lembrou o Nélio. E Betina complementou:  

O ambiente precisa ser favorável para acolhermos as pessoas na sua totalidade. As lideranças são peças-chaves para isso. Autoconhecimento e vulnerabilidade são fundamentais para os líderes que estão dispostos a olhar diferente para a saúde mental nas empresas.  (Betina Lackner)

Exercendo a vulnerabilidade, os líderes inspiram e geram identificação, como destacou a Francine.

Quando existe identificação, o líder cria legitimidade e inspira as pessoas para que elas possam exercer a segurança psicológica, que é aquela sensação de estar dentro de um ambiente e ter total liberdade de colocar seus medos e vulnerabilidades e expor suas dificuldades sem nenhum retalhamento.

E quais as pedras no meio do caminho para as empresas que decidirem se estruturar de forma estratégica para promover a saúde mental?

Essa foi a pergunta final do painel e também a parte em que eu fiquei daqui só balançando a cabeça por concordar, concordar e concordar mais um pouco com o Nélio. 

Um dos desafios é a pressão pelo resultado. O curto prazo – é amanhã, é esse mês, é AGORA! A segunda pedra no caminho é a porcaria do alinhamento. É a necessidade de você alinhar um processo com 45 pessoas antes da tomada de decisão. Isso interrompe o fluxo, te deixa esgotado. Tem uma hora em que você precisa dizer CHEGA, assumir a responsabilidade e decidir.  

É isso Nélio. É isso. 

Estresse e burnout: estratégias de prevenção 

geoff Summit de Saúde Mental nas Organizações

Aqui os convidados foram a Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco; Marco Kheirallah, sócio-diretor da SIP Capital; e Pedro Pan, psiquiatra e pós-doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 

O papo começou com uma verdade inconveniente: estresse sempre vai ter! 

Algum nível de estresse é importante pra que a gente consiga realizar nossas tarefas e nos engajar com nossos objetivos. O problema é quando o estresse aumenta e a performance diminui. À medida em que vamos perdendo performance, vão surgindo sintomas que, inseridos no contexto do trabalho, caracterizam o burnout. É quando bate uma sensação de exaustão emocional, de perda de engajamento, de falta de propósito, de distanciamento afetivo do trabalho. (Pedro Pan)

Mesmo precisando de ajuda, muitas pessoas não procuram tratamento porque desconhecem o que estão sentindo ou porque as doenças mentais ainda são estigmatizadas (isso é frescura! é  cansaço! deixa de ser fraco!). 

Ao mesmo tempo, se as lideranças não estiverem envolvidas com o tema saúde mental, dificilmente elas vão perceber que tem algo diferente acontecendo com o colaborador. 

Essa jornada da saúde mental TEM que começar pelas lideranças. Tem que vir de cima pra baixo. Se o tema saúde mental é tabu e o primeiro a tocar no assunto é o líder, a empatia vem muito rapidamente. O efeito é inacreditável. (Marco Kheirallah) 

E como os líderes podem entrar nessa jornada? 

Precisamos de líderes com escuta ativa, que estimulem o trabalho colaborativo, que adotem uma comunicação transparente, que busquem proximidade e abandonem o traço de comando e controle, que já não funciona há muito tempo. Que abram espaço para as pessoas se expressarem, criando um ambiente psicologicamente seguro. Toda a equipe deve ter o direito de se pronunciar, de trazer ideias, de ter a possibilidade de questionar sem que isso pareça um desrespeito. Essa segurança psicológica também faz com que as pessoas se sintam mais à vontade pra pedir ajuda. (Glaucimar Peticov)

Gláucia também reforçou que um ambiente seguro é importante para a inovação acontecer. 

É claro que o erro não é desejável, mas a gente sabe que o aprendizado com o erro é muito válido. Então temos que administrar a possibilidade de gerar autonomia para o time para que as pessoas corram risco, se sintam valorizadas e cheguem a um sentimento muito importante: o de pertencimento. 

E nós, o que podemos fazer pra tratar ou prevenir o burnout? Buscar ajuda profissional, claro. Mas o Marco Kheirallah recomendou três “remédios brancos”: 

Seja para prevenção ou tratamento, existem três remédios: sono, meditação e exercício aeróbico. São de graça e sem contraindicação. Essa é a minha primeira e grande recomendação.

É a minha também, leitor querido. Só acrescentaria a terapia! E me conta…você anda tomando os remédios brancos direitinho? Por aqui, a parte do exercício aeróbico tá dominada, mas a meditação e o sono…bem, isso é assunto pra outro post! rs Já fica combinado! 

No mais, espero que o resumão tenha sido útil pra você. E se quiser assistir aos vídeos do Summit, é só acessar o canal da Exame no Youtube. A revista foi a realizadora do evento junto com o Hospital Albert Einstein, a Cia de Talentos e a GetAhead. 

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